terça-feira, 30 de abril de 2013

Argo


O ano é 1979 e o país é o Irã. A situação é a Crise de Reféns e as vítimas são 6 dos 60 funcionários reféns que conseguem escapar. Os fugitivos são acolhidos por um embaixador canadense, no Teerã. O problema é que eles estão sendo caçados e com certeza não poderão sair do país vivos.
Como entrar no país e tirar esses 6 funcionários do esconderijo? Fácil: criando um filme falso de ficção-científica, que usará o Irã como locação e dar esses funcionários identidades falsas e funções específicas no filme, disfarce que garantirá a saída deles do país sem que sejam reconhecidos. Arriscado? Muito. Mas essa é a ideia que o agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck) tem e decide executar. E assim surge Argo, o filme que nunca foi feito, idealizado para a missão jamais contada, guardada a sete chaves e que há mais de uma década foi revelada.
Em uma era onde Hollywood aposta anualmente em remakes, reboots e adaptações de quadrinhos e livros juvenis, Affleck (que também é o diretor do filme) nos traz uma trama original, bem dosada que varia entre o humor e suspense, recheados de muita, mas muita tensão. É a ideia original, sobretudo, que é um dos grandes trunfos de Argo, filme que entre outros prêmios, levou o cobiçado Oscar de Melhor Filme. Você pode até achar que foi uma premiação desmerecida, por achar que haviam filmes melhores, mas em uma coisa tem que concordar comigo: Argo é um filmaço!

Os personagens são bem desenvolvidos, o roteiro é bem coeso, as atuações muito boas e a direção muito bem objetiva e determinada. A trilha sonora é muito boa, a fotografia também.
Muita gente chiou quando Ben Affleck ganhou os principais prêmios das principais premiações da sétima arte (Oscar e Golden Globe), mas o grande trunfo de Argo está em sua ideia totalmente cativante e original. E mais: não pense que Argo é somente mais um filme de suspense super patriota. Não não, ainda sobra espaço para uma baita homenagem a Hollywood e suas produções de ficção-científica, com a presença ilustre de John Chambers (John Goodman), entre outras referências ao cinema.
Argo é um filme simples, cativante e emocionante. Uma prova de que Ben Affleck tem futuro como diretor e de que ainda podem existir ideias boas e inovadoras na cada vez mais não-criativa Hollywood.







Homem de Ferro 3


A Marvel mostrou-se uma máquina de fazer dinheiro ao transportar ela mesma seu universo dos quadrinhos para as telonas, o que começou em 2008, com o filme Homem de Ferro, produzido pela Marvel Studios.
5 anos depois, o que era novidade na época virou sinônimo de qualidade e bilheterias cheias. Já vimos homens de ferro, gigantes verdes, deuses asgardianos, supersoldados, espiões secretos e muito mais.
O ápice da produtora veio no ano de 2012, com o épico arrasa-quarteirões Os Vingadores. A principal estrela, claro, era ele, o Homem de Ferro. Robert Downey Jr. conseguiu encarnar o gênio (bilionário, playboy e filantropo) Tony Stark da maneira certa: com humor, carisma e personalidade. Fez isso tão bem, a ponto de ele ser o ator de segundo maior cachê atualmente em Hollywood, sendo idolatrado por uma infinidade de fãs. Você deve estar se perguntando o porquê de eu falar tanta coisa que você provavelmente já sabe. Simples: temos que ter consciência do desafio que Shane Black (o novo diretor de Iron Man) tinha em mãos, o de fazer um filme melhor que os seus antecessores. E eis que estreia no cinema o resultado de muita expectativa, muita publicidade e alvo das mais contraditórias críticas, por hora detestando-o e por hora elogiando-o: Homem de Ferro 3.
Os dois primeiros filmes do Homem de Ferro foram super bem-sucedidos não só nas bilheterias como também entre os fãs. E nesse ramo de "sagas", que tá dando muito dinheiro hoje, seria preciso um esforço tremendo da Marvel para criar um filme tão épico ou melhor do que os outros capítulos cinematográficos da produtora. Para isso, mudanças seriam necessárias. Sai da direção Jon Fraveau (que continua atuando como o amigo e alívio cômico de Tony, "Happy") e entra Shane Black, diretor de Beijos e Tiros ("Kiss Kiss, Bang Bang") e roteirista da brilhante série Máquina Mortífera.
Black dá um novo tom à série, uma carga mais dramática, embora as piadas marquem presença (muitas vezes até excessivas e desnecessárias, inclusive). O filme é mais uma jornada de aprendizado, de descoberta para Tony Stark. O bilionário está sofrendo de crises de ansiedade, é só alguém lembrar o incidente de Nova York (que ocorreu em Os Vingadores) e pronto! Tony está "desmontado". Por falar em montar, o gênio ainda tá com mania de construir várias e várias armaduras, para proteger-se e também para a segurança de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow). Mas eis que surge o Mandarim, um vilão oriental com histórico de atos terroristas por todo o globo e que ataca vários pontos norte-americanos sem uma aparente bomba ou gatilho. O velho Stark resolve convocar o terrorista para um duelo, mas o que recebe em troca é muito mais intimidador. O Mandarim ataca de tal forma, que Stark agora não tem casa, segurança ou armaduras. E é aí que entram um dos maiores méritos da película: este não é um filme sobre o Homem de Ferro. É um filme sobre Tony Stark.
A ausência de outros personagens do universo (e até mesmo da S.H.I.E.L.D.) dá ao filme um tom de descompromisso com a série, um tom de "conto separado", um ar de arco de quadrinhos mesmo, uma história completinha e divertida, desses encadernados que encontramos por aí.
Shane desenvolve bem seu Tony Stark, dando-lhe momentos de genialidade, improviso e até de espião tipo James Bond, sem deixar de lado as diversas piadas do Robert, a carga dramática e até uma novidade: a violência. Por ter um ritmo frenético, acelerado e cheio de ação, Iron Man 3 inova até no emprego de sua violência, não tornando-a explicitamente sanguinária mas colocando o seu personagem principal em vários momentos assassínios.
O maior problema da película, infelizmente, é o roteiro. Repleto de falhas e furos visíveis, deixa a desejar em algumas sequências, optando pelas comuns soluções rápidas e dá a sensação, inclusive, do filme ter sido cortado, pelo tanto de situações mal resolvidas. Nada, porém, que atrapalhe a diversão.
Diversão, aliás, é o que define o terceiro filme sobre o Iron Man. Talvez os fãs detestem um pouco os caminhos que a pelí
cula toma, mas não podem discordar que Homem de Ferro 3 é o mais divertido da saga.
São efeitos especiais, frases de efeito, cenas de tirar o fôlego e muitas situações cômicas. Deleite para o grande público, com certeza!
Assim, Iron Man 3 é um grande divertimento, repleto de atuações digníssimas (Ben Kingsley está fenomenal), reviravoltas geniais (aplausos para o marketing do filme, a todo momento nos enganando genialmente) e, principalmente, Tony Stark, o que todos têm que concordar: nunca é demais.

NOTA MECÂNICA: 8,5

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Homem Dos Punhos de Ferro




Durante a vida acadêmica, nós, jovens gafanhotos, estudamos as escolas literárias que marcam o momento social de cada época. Refrescando as memórias, temos, por exemplo, o Barroco, que marca o momento histórico da contra-reforma, os neoarcadistas que buscam o equilíbrio na estética dos clássicos antigos durante um período de mudança no pensamento humano. A questão é: por que este interlocutor que vos fala teve que dar uma “aula” de português/historia no paragrafo de introdução de um critica de um filme atualíssimo?

Bem, costumo dizer que o épico Quentin Tarantino é o meu diretor/roteirista preferido e que o considero como Einstein das películas. Acontece que, Quentin apresenta um estilo de filme que até então nunca havia sido explorado, que para abruptos, não passa de sangue e personagens sarcásticos (os famosos “Badass”). Sabemos que , não é bem por ai, e o estilo considerado “indigesto” pelos primeiros críticos mais conservadores, vem desde os anos 90 acumulando Oscar  e premiações diversas. Seguindo o ponto de vista de que tudo que é bom se torna referência, podemos aqui dizer que com o filme O Homem Dos Punhos de Ferro presenciamos uma obra da “Escola Tarantinesca”. Isso mesmo, amigo, no decorrer deste texto pretendo analisar o filme e apresentar meus argumentos de mero admirador apaixonado pela sétima arte.

O Homem dos Punhos de Ferro é um filme dirigido por RZA (estreia do rapper como diretor) e tem roteiro escrito pelo mesmo RZA e Eli Roth (ator de Bastados Inglórios e diretor de O Albergue), onde a trama se passa em uma China feudal, onde Darius Smith (RZA) é um ferreiro de passado escravista, que se torna um defensor dos camponeses. No roteiro vemos a primeira influencia tarantinesca mesmo que em proporções mínimas, três personagens, cada um com historias diferentes que se envolvem em um ponto, apesar de que, com exceção de Smith que tem sua história completamente relatada no filme, dos outros dois personagens, X-blade e Jack Knife (Russel Crowe) se têm apenas conceitos e traços de suas personalidades.

O filme segue a linha do Kung-fu que eu costumo chamar de “Sobrancelha Branca”. Muita pancadaria, história clichê, ações lineares, monges, hadouken, etc. Realmente, sobre o roteiro não há nada de brilhante, uma história modesta, porém, amigo, pra quem é fã dos clássicos tarantinescos, os elementos ainda assim são fascinantes, o uso do sangue a ponto da banalidade é um dos pontos mais incisivos que se deve ressaltar, embora os personagens não tenham sido bem construídos e isso “comba” com a pobreza da história, trazendo um filme tímido até de mais. Sobre os personagens, Jack Knife é um dos poucos que chegam a ter um pouco de carisma pelo seu sarcasmo e postura totalmente despojada, porém a linearidade da história não permite que isso se aprofunde a ponto de ser genial a nível Tarantino.


Outro ponto que evidencia a natureza hermética do filme é a própria composição dos personagens, que se assemelham exacerbadamente com os famosos de Mortal Kombat (sem comentários)! Por exemplo, Madame Blossom interpretada por Lucy Liu ( Os anos são generosos com a Pantera) e o próprio Black Smith (RZA) são os irmãos menos bizarros de Kitana e Jax respectivamente, dando um aspecto de “Crossworlds” completamente desnecessário. Trilha sonora do filme é o hip hop mixado com trilhas orientais, uma boa sacada, mas ofuscada pelos outros erros técnicos grotescos.





Pode-se considerar que a estreia de RZA na telona por trás das câmeras foi fracassada na sua essência. Ao levar o nome de Quentin Tarantino espera-se sempre algo muito bem elaborado, e não é o que encontramos na trama, aspecto diferente do seu colega de segmento Robert Rodriguez (Sin City, e saga Um Drink no Inferno, além de ser meu "primo") que tende pelas mesmas diretrizes do mestre e nos trás até agora trabalhos no mínimo feitos com certa percepção e habilidade.

No fim, O Homem Dos Punhos de Ferro é um filme tímido que pode causar descontentamento ou irrelevância para fãs de "cinema bem aplicado" e que pode muito bem ser assistido com os brothers, por puro divertimento. Vale a pena a conferida, pela ousadia de seguir uma vertente com fãs tão exigentes.

NOTA MECÂNICA: 6,0

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Toy Story 3



Antes de começar a comentar o filme, quero pedir adiantadamente desculpas a vocês. Não irei tratar este como mais um filme. Irei trata-lo como um pedaço de minha vida. Não estarão lendo nas próximas linhas uma crítica de um cinéfilo e sim de um apaixonado por Toy Story. Perdoem se eu não julgar o filme com o raciocínio. Estou fazendo-o com o coração.
Toy Story foi o pioneiro nas animações computadorizadas. Em plenos 1995, a Pixar (ainda braço direito da Lucas Film) lançara uma animação com ideia original, a história dos brinquedos! Animação essa, que John Lasseter, o diretor, disse ser uma homenagem a seus próprios brinquedos, que tantas vezes o levaram a um mundo de imaginação, quando criança.
De certa forma, isso faz parte de mim também. Ganhei o VHS quando guri, e aquele era o meu filme favorito. Até hoje coleciono milhares (é sério) de miniaturas, e naquela época já tinha muitas. Lembro que eu assistia ao filme várias vezes, sempre com meu Woody e meu Buzz do lado. E brincava de que eles tinham vida. E fazia vários "filmes", me sentindo o próprio Andy!
Então, veio Toy Story 2 (1999). Era a Pixar lançando sua primeira continuação, mostrando que a qualidade não caíra e que sabiam superar-se. Mais uma vez, pude me ver na história. VHS comprado e uma parte da infância identificada.
Eis que em 2010 a Pixar (agora da Disney) decide fazer mais um (talvez o último?) capítulo da saga dos brinquedos: Toy Story 3 veio com tudo, ganhando indicação a Oscar de Melhor Filme (algo raríssimo para o padrão da Academia) e ganhando, claro, a estatueta de Melhor Animação.
Me lembro de ir ao cinema cheio de expectativa e sair de lá com a certeza de que elas foram superadas. Agora não era mais uma parte da infância retratada ali. Era a vida. Era pessoal.
O terceiro capítulo da saga passa-se 10 anos após o primeiro filme. Andy, o dono dos brinquedos cresceu e irá para a Faculdade. Precisa então decidir o que irá fazer com os brinquedos: leva-los ao porão? Doa-los? Por idas e vindas do destino, os brinquedos encontrarão mais desventuras do que esperam. E aí, o território propício à imaginação da Pixar está pronto. Toy Story 3 não é em nenhum momento clichê, desmotivador, monótono. Antes, sempre se reinventa, por meio de reviravoltas inimagináveis e uma trama consistente, com uma carga dramática capaz de botar muito filme hollywoodiano no chinelo.
E aí é que um despretensioso filme aparentemente infantil torna-se uma obra-prima. E mais do que isso, amigos, torna-se um nocaute emocional.
É como se a criança dentro de mim, que toda noite dormia com seus bonecos embaixo do travesseiro se visse na história, e soubesse lá no fundo do coração, o que seriam os minutos finais desse filme belíssimo.
Lembro que no cinema, o silêncio era total, nos últimos minutinhos. Lembro-me de engolir em seco. Sentir as pálpebras tremerem. E a lágrima começar a descer. Lembro-me de olhar ao meu redor, e ver pessoas de diferentes idades como eu, emocionadas, identificando-se com o fim de uma história que participou da vida de gerações. Ou melhor, que fez a infância de uma geração inteirinha. A minha geração.
Anos depois, invento de rever o filme. Achando estar maduro, preparado. E mais uma vez aquela criança que não queria crescer, que dormia com os bonecos embaixo do travesseiro e brincava de diretor de cinema apareceu. Mais uma vez o silêncio tomou conta e mostrou o "som" de um coração arrebatado por um desenho animado. Mais uma vez os olhos umedeceram-se. A emoção não era a emoção de um cinéfilo, extasiado com um filme delicado. Era a emoção de um garoto que viu-se na pele de Andy. Um garotinho crescido que até hoje tem um baú cheio de brinquedos. Que até hoje tem um Woody e um Buzz guardados, aposentados de tantas aventuras no Espaço Sideral.
Toy Story 3 conseguiu mais uma vez mexer comigo. Mexeu lá no íntimo, quando me mostrou que a história contada ali, não era apenas uma história de amizade. Não era a história do Andy. Não era a história dos brinquedos. Era a minha história. Quando me dei conta disso, já era tarde demais para ser "forte", e a lágrima já estava descendo.

NOTA MECÂNICA: 10,0

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Invenção de Hugo Cabret



Caros, antes de começar a falar sobre este belíssimo filme de Scorsese,  quero dizer que estou emocionado. Mas emocionado mesmo, maravilhado, eu diria. Embasbacado. Impressionado. Tudo com "ado" que consiga descrever minha sensação ao terminar de ver Hugo Cabret.
Pronto, agora sim, podemos falar sobre esta pequena obra-prima do novo cinema. A história, baseada no livro homônimo, conta a história de Hugo(Asa Butterfield), um garotinho órfão que vive dentro de um relógio em Paris. Ele é solitário e sua única companhia é a de um homem-máquina (uma espécie de Pinóquio mecânico) que seu falecido pai (Jude Law) lhe deu. Para "ligar" a máquina, Hugo precisa de uma chave que não lhe pertence. A expectativa de ligar o homem-máquina é grande, pois Hugo acredita que ele traga uma mensagem do próprio pai. Mas o que vai descobrir é algo muito maior que isso.
Scorsese, conhecido por filmes como Taxi Driver, Touro Indomável e Os Infiltrados, nos entrega um filme infantil altamente recomendado para todas as idades e amantes de cinema em geral. Aliás, ao assistir a Hugo Cabret, ficou-me a dúvida, se realmente os pimpolhos iriam se identificar ao filme. Embora misture gêneros, efeitos sonoros, cenas coloridas e um certo toque de "magia", o filme tem uma trama bem complexa para a cabeça dos guris. Mas esqueçamos faixas etárias (sei que vai agradar a todos no geral), atuações (excelentes) e fotografia (belíssima, a prova de que uma versão live-action de Tintim pode ser feita) e nos apeguemos ao que o filme tem de mais belo: o cinema. Hugo Cabret começa sendo uma dessas historinhas de órfãos com seu "brinquedo mágico" que a gente vê na Sessão da Tarde e termina sendo uma grande homenagem ao cinema. Mas homenagem mesmo, sabe? Daquelas que faz cinéfilo se arrepiar.
O motivo de tal homenagem? Simplesmente um dos personagens principais do filme (e o destaque da trama, pra ser mais específico) é George Méliès, velho e esquecido. Não posso expressar minha surpresa e emoção ao ver Viagem à Lua (1902) foi retratado. Mas eis que a surpresa só aumentaria. Toda a obra de Méliès está ali, e no fim, Hugo Cabret acaba sendo uma jornada cinematográfica, ao início do cinema. Ao início mesmo, sabe? Impressionante como um filme de aventura e fantasia torna-se documentário, depois vai para a ficção-científica e transita entre gêneros tão belamente.
Hugo Cabret é uma verdadeira mensagem de agradecimento, não só a Méliès, mas ao cinema em geral.
Uma história sensível, encantadora, cinematográfica. Uma viagem ao início do cinema está te esperando, e assim como o homem-máquina, você só precisa da chave do coração para aprecia-la.

NOTA MECÂNICA: 9,5

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Django Livre


Cinema de faroeste é uma das coisas mais típicas de Hollywood. Talvez a quantidade de filmes do gênero tenha diminuído, é verdade. Talvez também, os western mais recentes tenham perdido a qualidade dos antigos. Não me refiro só à era de Leone, Eastwood, Van Cleef ou Wayne.
Me refiro até mesmo à época em que eles eram mal feitos, mortes sem-graça, mas histórias de vingança que por mais fossem clichês, sempre enchiam os olhos. Me refiro aos antigos Django.
Eis que o maluco do Tarantino decide fazer a sua homenagem aos spaguetti do qual Django faz parte.
Mas peraí, estamos falando de Tarantino, oras! O cara que fez Pulp Fiction, Kill Bill e detonou Hitler em Bastardos Inglórios! Pronto, o convite está feito.
Django Livre não é um faroeste comum. É o jeito tarantinesco de narrar faroeste. E meus amigos, o resultado mais uma vez é explêndido.
Primeiro porque o filme é uma grande homenagem aos faroestes antigos. Os filtros que Quentin usa, para dar uma imagem mais old movie, a trilha sonora, os zooms repentinos resultantes em extreme close ups (o que já havia explorado em outros de seus filmes-homenagem), tudo remete aos filmes antigos. Sem contar, claro, do genial e cômico encontro entre Django (Jamie Foxxx me fazendo pagar a língua e mostrando que rappers sabem atuar) e Franco Nero (o Django dos filmes antigos).
Some a todas essas mais uma multidão de referências cinematográficas e pop. Sim, Tarantino mais uma vez faz um filme pop. Já viu tocar hip-hop em filme de bang-bang? É, isso é o efeito tarantinesco, caros.
O filme é tão belo, que Tarantino pega uma ideia inicialmente pobre, uma história aparentemente clichê e coloca tudo o que há de bom e do melhor de seu cinema nela, criando uma história sobre vingança (como sempre) daquelas que faz a gente vibrar quando vê o mocinho fazer justiça.
Soma-se ao concreto e hilário (sim, o filme é muito engraçado) roteiro, atuações digníssimas de premiação.
Como eu disse, Jamie Foxxx dá um show. É incrível a transição de um escravo calado para um pistoleiro vingador. Sem contar os "personagens" que ele tem de interpretar durante o filme, que só ratificam o bom trabalho do ator. Quem mais brilha aqui, certamente, é o nosso amigo Christoph Waltz, o conhecido "Hans Landa, de Bastardos Inglórios", nos entregando um personagem cínico, irônico, sarcástico e genial. Eu sempre quis ver como ele interpretaria um dos mocinhos, e o cara se supera. Por mim, a estatueta é dele.
Se Waltz brilha na maior parte do filme, só não brilha durante toda a película porque divide espaço com Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson, irreconhecíveis em seus papéis! Gente, os caras estão muito bons! Tem hora que a cada minuto que passa, um rouba a cena do outro, e ficamos maravilhados com o espetáculo visto. Espetáculo, inclusive que conta em cena com o próprio Tarantino, que faz uma participação especial explosivamente inesperada.
Muita gente por aí dizendo que o filme é fraco, que Tarantino se perde nele? Pura balela! Se esperam um roteiro genial ou uma trama que deixa a gente confuso, vão assistir Hitchcock ou Nolan. Aqui estamos falando de humor negro, sangue e cenas memoráveis. Aqui, estamos falando de Tarantino!

NOTA MECÂNICA: 9,0

domingo, 20 de janeiro de 2013

Branca de Neve e o Caçador



Eis que a onda de readaptações de clássicos da literatura varre Hollywood! Vão-se Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, os próprios irmãos Grimm (?!) e agora Branca de Neve, que em 2012 chegou em dose dupla com o agradável e ingênuo Espelho, Espelho Meu e o filme em questão, o sombrio e tecnicamente épico Branca de Neve e o Caçador.
O trailer animava, mas a ideia de ter mais um filme com Kristen Stewart indecisa sobre dar seu coraçãozinho a dois bonitões já tava enchendo. Mas, por causa da proposta, lá vamos nós assistir ao filme!
E, meus caros, digo-lhes que o resultado final é bem bacana!
Primeiramente, que a trama é muito original e diferente das histórias da branquela divulgadas por aí. O filme do novato (e talentoso) Rupert Sanders é sombrio, violento (não graficamente falando, lembre-se que este filme deseja atrair as atenções das famintas fãs de Crepúsculo e Cia.) e - pásmem - épico!


Sim, conseguiram dar uma profundidade imensa à trama! A personagem da Rainha Ravenna é muito bem escrita, carismática, maligna. E eu que sempre considerei a Charlize Theron um rostinho bonito no cinema (perdoem-me, nunca assisti Monster), tenho me impressionando. Ela é a melhor em cena, assim como a mais bela (não entendi como a Branca de Neve de Stewart é a mais linda do reino, mas "vamos'imbora"!

 A trama pega um pouco da história base. Está lá a Rainha do bad, o espelho (retratado aqui de forma bela e criativa), a mocinha (que aqui ganha ares messiânicos), o príncipe, o caçador (que deixa de ser um zero à esquerda de coração mole para ser um dos bonitões da trama e certamente o personagem masculino mais interessante, embora não tão bem trabalhado) e os oito (?!) anões. É isso mesmo, oito. Sem perguntas.


Pelo o que vimos acima, os personagens são os mesmos e coisa e tal, só que o longa de Sanders adiciona ares "tolkien" à trama, colocando trolls, criaturas da floresta e um bambi branco, tipo aquele que os irmãos Pervensie perseguem no fim de O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. Não lembra? Tudo bem.
A fotografia do filme é belíssima, locações reais muito bem aproveitadas. O figurino é soberbo. O filme consegue ser estiloso demais! O roteiro tem suas "soluções mágicas" para alguns probleminhas, mas pra um filme do cinema high concept a trama é até bem resolvida. Os alívios cômicos (e o carisma que falta nos personagens masculinos da trama) são jogados para os anões, que dão um show imenso e roubam todas as cenas em que aparecem!
Stewart trabalha bem, convence. Sua Branca de Neve tá mais pra Joana D'Arc, ela não é aquela princesinha com um modo Disney de viver. Theron dá um show, Chris Hemsworth e Sam Claflin cumprem seus papéis, no pseudo-triângulo amoroso. Há uma leve tensão entre os três, nada mais. Um alívio!
Efeitos especiais muito bem trabalhados, cenas realmente bem dirigidas, um bom elenco e uma trama original para uma história tão batida, garantem pontos positivos para o filme. Tem seus defeitos? Sim, certamente. Mas se essa nova onda de readaptações seguirem a linha proposta por Sanders, serão muito bem-vindas pela minha pessoa.

NOTA MECÂNICA: 8,0